Uma delegada da Polícia Federal colherá na 3ª feira (30.dez.2025) os depoimentos de Daniel Vorcaro, fundador do Banco Master, Paulo Henrique Costa, ex-presidente do BRB (Banco de Brasília), e Ailton de Aquino Santos, diretor de Fiscalização do BC (Banco Central). Depois das declarações, a autoridade policial decidirá se realiza a acareação determinada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Dias Toffoli.
A informação foi divulgada pela assessoria do STF nesta 2ª feira (29.dez.2025). Segundo o comunicado, depois da coleta dos depoimentos, a delegada avaliará a necessidade de proceder à acareação. Um juiz auxiliar do gabinete de Toffoli e um representante do Ministério Público acompanharão o procedimento. Os nomes não foram informados, e a imprensa não terá acesso aos relatos.
As declarações começarão às 14h. O STF informou que enviou um link de videoconferência para os participantes. Vorcaro pediu para prestar o depoimento presencialmente na Corte, mas o Supremo ainda não confirmou se autorizará a ida.
A acareação foi determinada pelo ministro Dias Toffoli, relator do caso no STF, por iniciativa própria. A medida não partiu de pedido da Polícia Federal. O magistrado decidiu ouvir os envolvidos separadamente para, em seguida, confrontar as versões sobre o processo de liquidação extrajudicial do Banco Master.
Toffoli decretou sigilo sobre as investigações e concentrou a documentação no Supremo. O inquérito apura responsabilidades relacionadas à liquidação do banco, decretada pelo Banco Central. Segundo informações do BC, haveria cerca de R$ 12 bilhões em créditos sem lastro no balanço da instituição –acusação que o Banco Master nega.
O ministro busca esclarecer as providências adotadas por cada agente envolvido até a decisão de liquidação extrajudicial.
Em 28 de março, o BRB anunciou a intenção de adquirir o Banco Master, operação que envolveria cerca de R$ 50 bilhões em ativos, correspondentes a 49% do capital votante e 58% do capital total. O Banco Central vetou a operação em 3 de setembro de 2025.
Em 18 de novembro, o BC decretou a liquidação extrajudicial do Master. No mesmo dia, a PF deflagrou a operação Compliance Zero e prendeu Daniel Vorcaro e outros dirigentes da instituição.
Vorcaro foi solto em 29 de novembro por decisão da juíza federal Solange Salgado, do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região). Ele cumpre medidas cautelares, incluindo uso de tornozeleira eletrônica.
No sábado (27.dez), Toffoli negou recurso apresentado pelo Banco Central no dia anterior. A autarquia solicitava esclarecimentos, entre eles, sobre a condição em que seu diretor de Fiscalização seria ouvido –como investigado ou testemunha.
Na decisão, o ministro declarou que Ailton de Aquino Santos não é investigado e que o Banco Central também não figura como alvo do inquérito. Eis a íntegra (PDF – 79 kB).
“Deixo de conhecer dos embargos, posto que nem a Autoridade Central Financeira Brasileira nem o diretor da Autarquia são investigados”, escreveu.
Toffoli justificou a urgência das oitivas em razão do impacto dos fatos apurados sobre o sistema financeiro. Disse ainda que a participação do Banco Central é relevante para o esclarecimento do caso, por envolver a atuação da autoridade reguladora.
O Poder360 apurou que o BC considera a acareação uma “armadilha processual”, com potencial de “constrangimento” para a autoridade monetária do país. O recurso com pedido de esclarecimentos, agora negado, tinha 4 dúvidas centrais:
Ailton Aquino Santos foi indicado ao cargo de diretor do Banco Central pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2023. Teve o nome aprovado pelo Senado em 4 de julho daquele ano, por 42 votos a 10, com 1 abstenção.
Em 17 de novembro de 2025, Aquino participou de videoconferência com Daniel Vorcaro, registrada na agenda oficial do Banco Central. A reunião contou também com dirigentes da área de Supervisão Bancária e foi classificada como fechada à imprensa. Naquele período, repercutia o anúncio da venda do Master à Fictor Holding Financeira.
No dia seguinte, 18 de novembro, Vorcaro foi preso pela Polícia Federal no Aeroporto Internacional de Guarulhos.
Um ofício interno do Banco Central, que descreve a reunião, passou a integrar a defesa do fundador do Master. Os advogados alegaram que Vorcaro havia informado ao regulador sobre a viagem internacional, argumento utilizado para contestar o risco de fuga.
A juíza Solange Salgado acolheu a tese e substituiu a prisão por medidas cautelares.


