A iCred, fintech especializada em crédito consignado, concluiu uma captação de R$ 1,15 bilhão por meio da emissão de cotas em dois novos FIDCs.
As ofertas, coordenadas por Itaú BBA e XP, têm o objetivo de garantir o funding da operação até março de 2026.
Do montante, R$ 1 bilhão tem como destino as operações de INSS, e R$ 150 milhões, o consignado com garantia do FGTS. As duas verticais representam em torno de 50% do negócio da iCred, que pretende fechar o ano de 2026 com a originação de mais de R$ 4 bilhões em crédito.
Nos novos veículos de financiamento, a iCred conseguiu melhorar o custo de captação nos últimos anos.
No seu primeiro FIDC em 2023, o fundo foi estruturado com remuneração de CDI mais 4%, enquanto as últimas emissões saíram a CDI mais 1%.
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“Quando você compara o funding, nós estamos tão competitivos quanto vários bancos médios”, afirmou o CEO, Túlio Matos.
Essa evolução foi construída, segundo ele, com certificações e governança, além de um modelo amparado por uma plataforma de inteligência para análise de dados.
A empresa, fundada em 2022 pela família Matos em Aracaju, em Sergipe, se tornou a primeira fintech no Brasil a obter a qualificação de Primary Servicer pela Fitch Ratings para securitização de consignado INSS e FGTS.
“É como se fosse um ISO, um selo de qualidade que traz esse nível de percepção, de consistência e de continuidade.”
A iCred se desenvolveu com recursos próprios ao longo dos anos, mas prepara um novo movimento para avançar no mercado.
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A startup concedeu mandato para a Vinci Compass para apresentar a marca, principalmente nos Estados Unidos, e buscar um investidor institucional.
Essa busca por um sócio, inicialmente, se deu em razão da necessidade de capital para a estruturação dos fundos.
“No fim de 2024, a empresa começou a crescer muito e nós tivemos medo de não conseguir financiar o nosso crescimento”, disse Túlio, que apontou que o cenário mudou ao longo de 2025, assim como a motivação.
“Honestamente, o interesse já não é mais capital. Nós estamos buscando governança, trazer uma visão de mercado e de mundo e acesso a fontes internacionais.”
Em paralelo, a startup negocia uma linha de crédito, também nos Estados Unidos, como nova estrutura de financiamento.
O plano é depender menos de emissões recorrentes de FIDCs, processo que consome tempo e foco dos empreendedores.
Além de Túlio Matos, a operação tem outros integrantes da família no comando: os irmãos Thiago Matos (Chief Technology Officer), Júlio Matos (Chief Financial Officer) e Pedro Matos (Chief Strategy Officer).
Segundo Túlio, a filial brasileira de uma gestora americana já conhece e comprou a tese. A decisão final virá a partir de um encontro em janeiro na matriz.
“Nós precisamos entender se o baiano de Juazeiro tem condição de convencer os gringos no frio de 10 graus”, brincou sobre a cidade onde cresceu e a família tinha uma promotora de crédito, a GVN, que indicava clientes para uma rede de 15 bancos.
A iCred chegou ao mercado no começo de 2022 para oferecer a antecipação do saldo do FGTS, por meio do Saque Aniversário, recurso liberado no começo da pandemia de covid. O movimento seguinte foi a entrada em produtos consignados para pensionistas e aposentados do INSS.
A portabilidade do consignado do INSS, liberada em setembro, tem sido um dos principais motores do crescimento recente. “O negócio tomou outra proporção”, disse o CEO.
Na primeira semana de dezembro, a iCred recebeu demanda de R$ 57 milhões entre portabilidade e refinanciamento. A fintech oferece os produtos de crédito com juros mensais em uma faixa entre 1,40% até 1,80% ao mês - 18,2% e 23,9% ao ano.
Atualmente, iCred trabalha com cerca de 60.000 correspondentes certificados em todo o país e, recentemente, capturou 2% do mercado de INSS.
“Se imaginarmos que podemos chegar a 3% ou 4% do segmento específico no qual atuamos, teríamos no fim da década de R$ 25 a R$ 30 bilhões”, projetou.
Apesar do otimismo com o mercado, o CEO adota uma postura conservadora diante de oportunidades como o Crédito do Trabalhador, modelo de consignado lançado em maio para trabalhadores com carteira assinada.
O CEO criticou o que classificou como práticas agressivas do mercado, que fazem com que a taxa de juros chegue perto de 100% ao ano.
“Imagine a pessoa que está há seis meses trabalhando, em função com alta rotatividade, e toma um crédito para pagar em 18, 24 meses, comprometendo 35% do salário com uma taxa de juros de 100% ao ano. Essa pessoa vai ter dificuldade, porque vai comprometer a existência dela.”
A startup participa hoje do grupo criado pelo Ministério do Trabalho que busca aperfeiçoar o produto. Enquanto isso, a instituição montou novos veículos de financiamento no montante de R$ 500 milhões, um dentro de uma estrutura privada, e o segundo, de R$ 300 milhões, para levar ao mercado.
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